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A COVID-19 e as eleições proporcionais de 2020

Carolina de Paula



Virou clichê afirmar, seja no intervalo comercial televisivo ou em ensaios com pinceladas sociológicas, que a pandemia da COVID-19 estabeleceu um “novo normal”. O que exatamente isso significa ninguém sabe, mas a ideia remete a uma mutação em que simples comportamentos cotidianos e hábitos precisarão de adaptações. A dinâmica eleitoral, é claro, não ficou de fora. Com bastante atraso, a alteração das datas do calendário eleitoral do pleito de 2020 foram finalmente promulgadas no início do mês de julho (Emenda Constitucional 107/2020). Alguns eventos importantes, como a realização das convenções partidárias, por exemplo, seguem sem soluções prontas: como evitar a aglomeração? até que ponto o recrutamento partidário conseguirá ser feito de modo online, e qual o resultado disso na oferta de candidaturas ao eleitorado? Parece que essa será, mais uma vez, uma eleição de incerteza. Teremos também a “novidade” que já estava prevista antes da pandemia invadir nossas vidas, relativa a primeira eleição sem coligações para a disputa de cargos proporcionais (Emenda Constitucional 97/2017).



Há poucos estudos sistemáticos sobre as estratégias de campanha para os mais de 57 mil cargos de vereador espalhados pelo Brasil. Tirando o impacto do volume de dinheiro gasto na campanha, já provado por diversos pesquisadores, arrisco dizer que navegamos na mais profunda especulação sobre quais estratégias fazem mais sucesso ou se há padrões de campanhas para vereador no país. Em parte, isso se deve a própria natureza da eleição local, em que os municípios possuem imensa variedade, tanto no que diz respeito às forças políticas e partidárias, quanto à estrutura socioeconômica deles. Contudo, existe um elemento consensual e conhecido quando analisamos as campanhas de vereadores ou mesmo quando conversamos com algum candidato: a importância do corpo a corpo, ou seja, da aglomeração e da rua.



O documentário do cineasta Marcelo Brennand, de 2010, “Porta a Porta: a política em dois tempos”, é fantástico ao mostrar detalhes de uma campanha para prefeito e vereador em um pequeno município pernambucano (cerca de 50 mil habitantes em 2008), Gravataí. Porém, predominam no debate público análises sobre as campanhas à vereança pelas lentes do que se passa nos grandes centros urbanos - não raro procurando impactos do caótico cenário político nacional no pleito municipal –, esquecendo que mais de 80% dos municípios do Brasil são pequenos e se parecem mais com Gravataí do que com o Rio de Janeiro ou São Paulo. Em pequenos municípios, a campanha local envolve toda a cidade e é bastante esperada, já que a prefeitura é em diversos casos a maior “empregadora” da região, desse modo a manutenção do emprego ou o emprego almejado dependerá do apoio oferecido no tempo eleitoral.



É certo que qualquer prognóstico sobre a campanha de outubro depende dos próximos estágios da pandemia. Será que teremos uma fase 2 de contaminação, ou ainda, será que saímos da fase 1? A permanência da COVID-19 no Brasil levanta suposições sobre os efeitos na campanha ao Legislativo municipal. Sobre o recrutamento de candidatos, por exemplo, é possível especular impactos. Pesquisas de opinião públicas recentes mostram que mulheres possuem maior cautela e levam mais a sério o isolamento social do que os homens, além da sobrecarga doméstica com o cuidado da casa e dos filhos, que agora estão fora da escola. Diante disso, a decisão da candidatura pode ficar muito custosa e, por fim, desfavorecer o número de mulheres candidatas. O que, por sua vez, terá efeito sobre o número de candidatos homens que o partido poderá lançar, pois a legislação obriga um mínimo de 30% de mulheres na chapa. Portanto, se o partido quiser lançar uma “chapa cheia” (ou seja, 150% do total de vagas), este terá que conquistar mais mulheres, e caso falhem nessa tarefa podem pegar o caminho ilegal das “candidaturas laranjas femininas”, como infelizmente vimos em 2018.



Outro impacto possível é o surgimento do “novo porta a porta”, relativo a adaptação da conversa dos cabos eleitorais nas residências dos eleitores durante a campanha. Haverá distinções a depender da gravidade da pandemia em cada município, mas se a interiorização continuar crescendo será inevitável o aumento da utilização de mecanismos remotos (digitais) para o contato também nos pequenos municípios. Dessa forma, ferramentas como o aplicativo WhatsApp e as redes sociais ganharão ainda mais espaço.



Palavras-chave: Movimento Voto Consciente, Poder Legislativo, Poder Executivo, eleições proporcionais, eleições municipais, pandemia, COVID-19, coronavírus, redes sociais.

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