Bruno Silva
Até quando teremos que ouvir falas abjetas e enraizadas em senso comum deplorável que insiste em reinar na cabeça de alguns sujeitos? Até quando vamos continuar assistindo a episódios de xenofobia, racismo e violências das mais diversas? Até quando a sociedade irá escolher representantes cujas visões de mundo são limítrofes e enraizadas na mais profunda ignorância? Até quando vozes ecoadas a partir de um senso comum preconceituoso ainda estarão presentes nos nossos parlamentos?
Dificilmente algo que ocorre no universo da política local ganha os noticiários a partir de uma perspectiva positiva, digna de ser elogiada nacionalmente. É bem mais comum surgirem bizarrices das mais tremendas, infelizmente. O criminoso episódio envolvendo o vereador de Caxias do Sul, Sandro Fantinel (Patriota) – o qual se referiu a trabalhadores baianos como imundos e preguiçosos, os quais eram mantidos em condições de trabalho análogas à escravidão em vinícolas gaúchas – é mais uma expressão de algumas figuras lamentáveis esparramadas por aí no Brasil profundo.
O pior é que muitos desses trágicos personagens encontram-se assentados em uma cadeira de representante político naquele que é o espaço por excelência da diversidade social (e deveria ser da tolerância, pluralidade e conduta ética), o Legislativo. O difícil é considerar que não se trata de um ser isolado. A política recente no Brasil produziu lideranças cujo mínimo de referência democrática não faz parte tanto do seu léxico político quanto menos da sua formação como cidadão, isto é, se de fato for possível considerar alguém assim como um cidadão minimamente formado.
A democracia pressupõe respeito às regras escritas. Mas ela só se sustenta em uma sociedade do ponto de vista da sociabilidade política na medida em que as regras não escritas norteiam as interações entre os atores. Isso não implica, somente, respeitar aos adversários, os resultados das urnas e as decisões produzidas a partir das instituições. Significa, em alguma medida, se dirigir a qualquer cidadão com o mínimo de respeito e empatia. A democracia tem vivido uma crise constante: a relativização de valores essenciais à sustentação do regime por parte de indivíduos ou até mesmo setores bestializados. Vale destacar que divergências ideológicas são desejáveis no processo político, mas isso é completamente diferente do que temos assistido nos últimos tempos por parte de alguns políticos retrógrados.
Mais delicado ainda é o papel que as organizações responsáveis por selecionar as nossas lideranças políticas para o jogo eleitoral, os partidos, parece não cumprir em sua grande maioria: o preparo dos atores para a política democrática. A proliferação de legendas de aluguel cuja capilaridade pelo território se explica mais em função de acordos entre figurões locais, interessados somente em maximizar votos, ao invés de um crescimento espontâneo das siglas em função de plataformas, ideologias do campo democrático e adesões em virtude de líderes de referência é mais um sintoma do esfacelamento político que nos encontramos. É um dos fatores que explica a proliferação de alguns “sandros” Brasil a fora. Depois que acontece um episódio como este a expulsão da sigla, como no caso de Fantinel, é o mínimo que se espera, mas seria melhor prevenir ao ter que depois apenas remediar.
Se este fosse episódio isolado uma boa dose de aplicação da lei serviria como punição exemplar. Mas, infelizmente, não é. Quantos episódios nos tempos recentes já ocorreram envolvendo falas misóginas, preconceituosas, violentas, enfim, criminosas, por parte de parlamentares no Brasil? Junto a Sandro estão figuras que ficaram bem conhecidas na sociedade como Daniel Silveira, Arthur do Val, Roberto Jefferson e, desde quando era parlamentar, Jair Bolsonaro. Outras menos conhecidas também ocupam essa galeria, como: o deputado federal Mauricio Marcon (PODEMOS), o deputado estadual pernambucano Waldemar Borges (PSB), o ex-deputado estadual paulista Douglas Garcia (PTB), o vereador paulista Camilo Cristófaro (PSB) dentre outros.
Enfim, a lista tenderia a ser maior do que podemos imaginar. No final das contas a grande questão é apenas uma para refletirmos como cidadãos que escolhem, inclusive, tais sujeitos: até quando?
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