Humberto Dantas
Quando nos casamos na Igreja Católica temos que fazer um curso para noivos. A atividade varia entre as paróquias. No lugar onde eu e minha esposa frequentamos o padre entrou logo dizendo: “quem sou eu para aconselhar casais, se nunca vivi com uma mulher? Quem conhece as dores e os sabores de uma união estável são vocês. E por vezes seus amigos, familiares e os mais experientes. Não existem muitas regras fixas nessas relações, e os acordos vão variar de casal a casal. Mas Deus precisa estar com vocês”.
Perfeito. Entendemos a mensagem. Quero transportar esse discurso para o universo da política. Quem sou eu para aconselhar um vereador ou uma vereadora que tomou posse de seu primeiro mandato se eu nunca disputei votos? Pois bem, cada caso é um caso, mas espero que os valores democráticos e republicanos estejam com vocês. Vamos lá.
Não são poucos os debutantes que conheço. Além de trabalhar com formação de políticos, costumo conversar com diversos jovens que estão nessa situação. Cada posse, cada mandato conquistado me gera uma ponta de orgulho. Sei que não sou nada na vida dessas pessoas, mas o simples fato de saber que eles estão apegados à política, acreditam nela e buscam fazer algo me enche de esperança. Como educador, mas principalmente como cidadão.
Acompanho diversos desses sujeitos pelas redes sociais e posso garantir: calma! A motivação é contagiante, mas a estratégia é mais importante. Sou do tipo de profissional que quando jovem entrava numa reunião com a filosofia: “se eu não falar, se eu não pedir a palavra e participar do debate o encontro foi perdido”. Eu me expunha demais. Insegurança, necessidade de autoafirmação, tudo aparecia junto. Calma, meu filho! Seja estratégico. Ouça muito, pois cada fala e gesto geram expectativas que por vezes se perdem na sua cabeça. Você esquece, mas e quem te ouviu e acreditou em você?
Busque conhecer o terreno. Chegue com prudência. Mapeie as peças, conheça as estruturas. Um deputado federal com quem convivi faz cerca de 10 anos me disse: no primeiro mandato você ouve, sente, tateia. Não vai além disso. É no segundo que se torna possível agir. Tem gente que consegue ser mais rápido, tem pessoas que passam pelo parlamento sem nada fazer. Sinta o ambiente, os discursos são fáceis e em primeira pessoa, as ações serão mais difíceis e coletivas. Transformar ideias em ação vai exigir muito mais do que convicção.
Compre as boas brigas, ceda, e embarque em causas alheias para que possa receber o apoio esses sujeitos nas suas iniciativas. Você não é o único a ter as melhores ideias. E sua agenda não é absoluta e inquestionável. O parlamento é plural, o mundo das trocas e da solidariedade, por vezes falsa e conveniente. Mas estabeleça limites. Não é à toa que esse é o espaço da convicção: você faria X para ter Y? O que é X? Onde está o seu limite? Pactue isso com sua equipe, fale isso para você. Escreva isso, releia. Conte para alguém de fora e aceite ser cobrado por ela.
A partir disso, busque se comunicar de maneira minimamente responsável e decente. O voto inebria, ilude, te dá a sensação de que o universo lhe quer. Claro que alguém te escolheu, mas não faça disso algo que te coloque num pedestal de arrogância. Veja o que as pessoas falam e sentem sobre a política. Será mesmo que elas escolheram achando que você é a tábua de salvação? Ou escolheu, muitas vezes, o que tinha às mãos? O eleitor também é conveniente. Portanto: estabeleça um padrão republicano.
Com calma, prudência, pluralidade e respeito: legisle. Precisamos de gente como você. Com equilíbrio, paz de espírito, inquietação nas causas e crença na democracia.
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