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Candidatos a deputado federal: são sempre os mesmos?

Humberto Dantas



Em meu último texto para este blog escrevi sobre o perfil das candidaturas às 513 vagas da Câmara dos Deputados nas últimas seis eleições – de 2002 a 2022. A despeito de tantos dados interessantes, um deles chamou especial atenção: a quantidade de nomes envolvidos nesse pleito. Vamos fazer algumas contas rápidas para entender o que desejo evidenciar nesse texto.



O senso comum vive pregando que os eleitos “não mudam porque as candidaturas são sempre as mesmas”. Será verdade? Se estamos a falar de 513 vagas e seis eleições, o que temos às mãos são 3.078 mandatos no período. Se os parlamentares fossem sempre os mesmos, é possível dizer que praticamente 513 nomes ficariam seis eleições no mesmo lugar, e isso não ocorre. Primeiro porque nem todos tentam ocupar o mesmo cargo, segundo porque nem sempre eles conseguem. O contrário desse resultado seria encontrar 3.078 pessoas diferentes em 20 anos e seis pleitos, o que também não ocorre. E quantas achamos? Pois bem: 1.661 CPFs diferentes foram eleitos deputados e deputadas federais no Brasil entre 2002 e 2022, sem contar aqui suplentes que tomaram posse ou cumpriram fragmentos de mandatos pelos mais diferentes motivos. Assim, o argumento de que são sempre os mesmos começa a se enfraquecer.



Mas as pessoas poderiam dizer: são sempre os mesmos 1.661. Será? Isso ampliaria o que se convenciona chamar comum e polemicamente de “classe política”, mas ainda assim é possível desmistificar a máxima de algo restrito demais, ao menos em termos de opção.

Observe com atenção: ao longo de 20 anos localizamos 30.550 CPFs que tentaram uma vaga na Câmara dos Deputados. Percebe a diferença? Os vencedores de ao menos um pleito são apenas 5% do total de pessoas que tentam uma vaga na Câmara. Isso significa que o pleito é difícil, e que as críticas podem até recair sobre os partidos que podem privilegiar com recursos e espaços “os mesmos de sempre”. Mas o cidadão comum NÃO pode dizer que não tem opção. Ele tem. E se o objetivo é mudar, então que cumpra a tarefa mais complexa de procurar, pesquisar e, principalmente, variar – se este for o objetivo e o desejo, lembrando que gostar de um deputado e votar pela sua reeleição não representa pecado algum.



Pois bem, desses 30.550 sujeitos localizados que tentaram regularmente, sob o carimbo de apto da Justiça Eleitoral, e descontados aqui os casos impugnados, temos que em 20 anos um total de 84% deles disputaram exclusivamente UMA eleição para tal cargo, não foram eleitos e não voltaram mais. Percebe? Mais de oito em cada dez é tentativa isolada. Ademais, chega a quase 95% o total de gente que tentou até seis vezes no período e não entrou, destacando que o segundo percentual mais comum verificado é aquele do postulante que tentou duas eleições e perdeu ambas: 8,7%. Note: 93% buscaram o cargo até duas vezes em 20 anos e perderam – a despeito do que ocorreu em anos anteriores, pois nossa série aqui começa em 2002.



Quem ganha apenas uma vez, a despeito do total de tentativas, equivale a 2,9%, sendo que apenas 20 pessoas, ou 4% da Câmara dos Deputados, se elegeram para seis mandatos seguidos nesse período. Resumo de tudo o que estamos a dizer aqui: conseguir uma vaga de deputado federal é algo extremamente desafiador. Quem tentou e não conseguiu não pode se aborrecer por significar algo como 95% de um agrupamento em um intervalo de duas décadas. Mas este texto não é um afago aos postulantes, mas sim um chamado a quem vive reclamando que não tem opção. Tem sim. Em 2002, 68% dos candidatos estavam em voo solo em relação ao período analisado, este percentual caiu para 61% em 2006, foi a 62% em 2010, voltou a 68% em 2014, chegou a 72% em 2018 e atingiu o recorde de 81% em 2022. Notou? Claro que muitos desses podem ter tentado outros cargos ou o mesmo posto em anos anteriores, mas diante dos dados aqui organizados é impossível dizer que não haverá muita gente nova, sempre, tentando conquistar o seu voto. Assim: preste atenção.

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