Cláudio André de Souza
A escolha do voto para vereador é um processo complexo que vai além da simples identificação com um candidato. Diferentemente das eleições majoritárias, onde os eleitores tendem a escolher figuras mais conhecidas da sociedade, o voto nas eleições para o Legislativo municipal pode ser pautado por fatores menos racionais e mais ligados ao cotidiano, às redes de influência local e ao carisma pessoal.
De forma exploratória, é importante considerar o contexto do eleitorado. O voto para vereador é fortemente influenciado pela proximidade do candidato com a comunidade. Vereadores bem-sucedidos costumam ser aqueles que conseguem se conectar diretamente com as necessidades locais, como melhorias na infraestrutura dos bairros, apoio a projetos sociais e acessibilidade dos serviços públicos. Isso cria uma percepção de que o vereador “está presente”, um fator decisivo para a escolha do voto e a reeleição.
Além disso, redes de apoio, como líderes comunitários, igrejas e associações de bairro, têm um papel central. Esses influenciadores locais frequentemente orientam os eleitores, funcionando como uma ponte entre o candidato e um conjunto mais amplo da população. No dia a dia da luta pelo voto, os influenciadores locais passam a intermediar a organização da campanha e agrega demandas pessoais e impessoais presentes e futuras da população.
Este papel de destaque destas lideranças tem sido cada vez mais forte e agora entramos com tudo na era dos influenciadores digitais, isto é, literalmente as campanhas a prefeito e a vereador passam a agregar figuras influentes nas redes sociais, ampliando o engajamento e a profusão de conteúdos de impacto para uma parte do eleitorado mais conectada nas redes.
Outro elemento importante é a ideologia, que também desempenha protagonismo, mas de forma menos preponderante que em eleições para cargos de maior visibilidade. Eleitores tendem a priorizar candidatos que se apresentam como “fazedores”, que mostram resultados práticos, ainda que suas posições políticas sejam pouco claras. Em muitos casos, o que conta é a promessa de resolver problemas concretos.
Por fim, um fator frequentemente subestimado é a influência dos vínculos pessoais, como parentes e amigos que concorrem ao cargo de vereador. Esse tipo de relação direta gera um comprometimento que muitas vezes se sobrepõe a questões ideológicas ou programáticas mais profundas.
Escolher um vereador, portanto, é escolher um representante que, mais do que ideias, leva ao eleitor a promessa de uma atuação prática e direta. Mesmo assim, a primeira rodada da pesquisa da Globo/Quaest realizada em Salvador (BA) no final de agosto mostrou que 69% dos eleitores estavam indecisos no voto para vereador. A pesquisa também aprofundou o que pesa na escolha do voto. Para 29% dos eleitores, o candidato precisa ser um “representante da região/bairro” e para 21% que seja experiente com histórico de bom legislador. Outros 12% dos eleitores entendem que o candidato ideal deve compartilhar as mesmas opiniões.
Estas três categorias de prevalência do voto para vereador confirmam que ainda olhamos a representação política dos vereadores como uma espécie de apêndice da lógica do voto para prefeito. Seriam os vereadores aos olhos da maioria da sociedade uma espécie de “sub-prefeitos”? Representantes reais de um conjunto de bairros? Como fica a tribuna e o ato de legislar? Sairemos das urnas com o mesmo desafio de ampliarmos a cultura política em torno do papel estratégico de defender e legitimar nossos Legislativos municipais.
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