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Conseguiremos uma representação política digital em 2020?

Cláudio André de Souza


Muito antes da pandemia do coronavírus, a profusão do debate sobre democracia digital no meio acadêmico estava conformada na legitimidade da representação em torno do formato interacional favorável à qualificação da intervenção política dos cidadãos comuns. Nos últimos anos, novos espaços virtuais serviram de contraponto à crise da democracia representativa, reforçando as experiências de democracia digital, que se valem dos “meios”, isto é, do uso das novas TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação), mas buscam como “fim” aproximar a sociedade civil do processo deliberativo das instituições representativas.


A internet e as redes sociais têm sido utilizadas como ágora em busca da reconfiguração dos espaços públicos, no entanto, distante de uma hegemonia, se tornou um ambiente colonizado pelo mercado e pelo mundo do consumo, disputando as atenções com a política. Mesmo diante das dificuldades, o mundo da política há muitos anos tem feito das redes sociais um espaço de debate e interação.


Em tempos de pandemia, o impacto sobre as próximas eleições municipais tem levado pré-candidatos a formular um modelo de campanha digital. Vários parlamentares pelo Brasil a dentro, independentemente da ideologia e filiação partidária, começam a adaptar as suas agendas para a construção de reuniões virtuais com apoiadores, gabinete e pré-candidatos às prefeituras e vereanças, mas também estão preocupados com os seus mandatos e na possibilidade de apresentar ao público uma agenda de lives e entrevistas (em rádio e nas redes sociais).


O levantamento preliminar que fizemos entre os dez deputados federais (Gráfico 1) mais votados na Bahia em 2018 aponta para um aumento expressivo de lives e entrevistas em rádio nas últimas semanas. Considerando os meses entre fevereiro e maio (até o dia 25), o crescimento foi de 1.850% no período. Nos bastidores dos mandatos e dos partidos, tudo é visto de forma apreensiva, pois, a visita dos deputados às bases sempre foi fundamental para firmar acordos e compromissos com lideranças e eleitores. As eleições municipais se tornam um teste para os deputados federais e um momento de solidariedade no desenvolvimento de estratégias e mobilizações aos olhos das lideranças locais. A presença dos deputados nos municípios faz parte da confiança e da “arte” da representação.



O isolamento social e o enfrentamento à pandemia começam a esboçar mandatos e campanhas eleitorais que precisarão ser reinventados, já que nem os políticos e os marqueteiros sabem o que isso significa enquanto um formato acabado de comunicação diante do perfil heterogêneo do eleitorado brasileiro. As desigualdades regionais, as especificidades no acesso à internet e o nível educacional da população dificultam um modelo único e prevalecente.


Apesar disto, o WhatsApp e as redes sociais se tornarão em poucas semanas com a provável redefinição do calendário eleitoral um “novo normal” na condução do diálogo político com a sociedade em torno de uma representação política digital, sendo que não morrerá a face “analógica” do nosso sistema político e das práticas políticas atuais.

Uma representação política verdadeiramente digital está longe de se resumir a uma transmissão ao vivo nas redes sociais, mas pode significar um “novo normal” e um desafio colocado para as instituições neste momento e no cenário pós-pandemia. O esforço dos atores/atrizes da política é desejável e necessário.


Palavras-chave: Movimento Voto Consciente, Poder Legislativo, Poder Executivo, eleições 2020, representação política, rede sociais, cidadania, eleições municipais, Bahia, deputados federais.

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