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Eleições 2020: uma pausa na renovação?

Carolina de Paula

Na eleição de 2018 fomos surpreendidos pelo alto número de outsiders que conquistaram uma cadeira no parlamento. O fenômeno da “nova política” – que de nova só tem o nome, mas esse é tema de outro texto – respingou inclusive nas eleições para o cargo de governador. Com zero, ou quase zero, experiência política, o fenômeno foi visto em diversas regiões: no sudeste, o ex-juiz Wilson Witzel (PSC-RJ), é o exemplo de maior destaque; no norte, o empresário Antonio Denarium (ex-PSL-RR, atualmente sem partido) foi eleito em Roraima na esteira de Bolsonaro; no sul, o ex-bombeiro Carlos Moises (PSL-SC) foi a surpresa, entre outros diversos casos.



Tomados por um sentimento de que as eleições majoritárias municipais reverberam o que se passa nas eleições gerais, alguns analistas, ou mesmo o staff de candidatos, estão procurando sinais de 2018 para o pleito que se aproxima, em 15 de novembro. Considero um erro analisar as eleições dentro da mesma chave de leitura. Nunca é demais lembrar que as motivações do eleitor para o voto são de natureza multifacetada. Mostraram-se errôneas as análises baseadas somente em variáveis econômicas – dado o nítido elemento ideológico que agendou o pleito passado –, mas isso não significa, por exemplo, que a economia não importe mais na decisão do voto. Sabemos que o eleitor médio tende a votar mais bem informado sobre a realidade municipal, já que vivencia as políticas públicas municipais e conhece como ninguém a própria cidade.



Em eleições locais não há fórmulas únicas para todo o país. Assim, forçar a narrativa da “nova política” até pode funcionar, a depender do contexto municipal em questão. Prognósticos são sempre arriscados – talvez seja por isso que os cientistas políticos evitem tanto fazê-los –, mas pesquisas qualitativas por todo o Brasil têm mostrado que o cenário atual, influenciado pela crise sanitária da Covid-19, é de cautela com outsiders. De norte a sul, a saúde e o desemprego são duas prioridades eleitorais expressivas em 2020, e o eleitor espera ouvir nas redes, nas ruas, no rádio ou na televisão, soluções concretas e adequadas para o seu município.



Nacionalizar o pleito municipal é outra estratégia de risco para os milhares de candidatos que a partir de semana que vem oficialmente ganham as ruas e as redes. Em 2016, impactados pelo processo de impeachment da presidente Dilma, àqueles candidatos que nacionalizaram o debate no pleito majoritário saíram perdendo. Porém, para uma fatia expressiva do eleitorado, o de menor escolaridade e renda, já é preocupante a proximidade do fim do auxílio emergencial e o aumento substancial dos gêneros alimentícios da cesta básica. Conforme observado em pesquisas de opinião qualitativas, o eleitor sabe atribuir responsabilidades específicas para o presidente, governador e prefeito, mas espera que seu próximo prefeito seja sensível ao momento de insegurança que vivencia. Desse modo, outsiders parecem não consolidar o “tipo ideal” de mandatário, pois o momento não é de apostas e aventuras. Se a pausa na renovação persistirá até 2022 é muito cedo para prever. Afinal, com a nossa já longeva pandemia estamos vivendo um dia, e uma crise, de cada vez.

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