Carolina de Paula
Termina um ano bizarro, para dizer o mínimo. Em fevereiro, na posse da nova legislatura, eleita em outubro de 2018, um partido de extrema-direita – o PSL – emergiu com a segunda bancada da Câmara dos Deputados. Com 52 deputados federais eleitos, só perdia em tamanho para a do PT. A expectativa era de uma bancada poderosa, alicerçada pela força do “bolsonarismo” – o que quer que isso signifique, em termos concretos – nas urnas. Menos de um ano depois, a bancada do PSL se vê imersa em uma intensa disputa interna, travada publicamente nas mídias sociais, entre o presidente Bolsonaro e seu clã, de um lado, e o presidente da legenda Luciano Bivar, e deputados campeões de voto como Alexandre Frota e Joice Hasselmann do outro. O racha resultou no lançamento de um novo partido, liderado pelo próprio presidente da república: o Aliança pelo Brasil.
Para alguns analistas, 2020 será o grande teste do “bolsonarismo”. Será o presidente capaz de emplacar nas milhares de prefeituras do Brasil as pessoas ungidas por seu apoio? Sou cética quanto a isso, pois as últimas pesquisas de avaliação de governo e os sinais enviados pela sua bancada rachada e fraca articulação na burocracia, mostram que o “bolsonarismo” precisará ainda provar que existe como força política se quiser impactar na eleição do ano que vem. Sabemos que o jogo de forças partidário nos municípios possui dinâmica própria, e os embates ideológicos que marcaram fortemente a eleição de 2018 – o voto “antipetista”, por exemplo – não serão os mesmos ano que vem. Ao menos nas pequenas e médias cidades o cidadão é orientado por soluções concretas e utilitárias para os problemas da gestão da sua cidade. Arriscaria dizer que mesmo conseguindo aprovar seu novo partido em tempo recorde, restaria ao “bolsonarismo” uma margem de influência restrita a algumas grandes cidades. E mesmos nas capitais que obteve alta votação, como São Paulo e Rio de Janeiro, haveria ainda uma disputa frente aos governadores desses estados, que em ambos os casos romperam com o presidente.
Outro fenômeno interessante de acompanhar envolvendo os novatos do PSL em 2020 – e quem sabe até lá já abrigados em outra legenda – será o desempenho dos “deputados prefeitáveis”, ou seja, aqueles disputarão um cargo no executivo municipal. Estudos indicam que esse perfil de candidato possui algumas vantagens competitivas, tendo em vista o acesso direto e indireto de cabos eleitorais no seu município e o retorno pela autoria de emendas e projetos de leis, por exemplo. Contudo, o resultado das últimas eleições serve de alerta para que as regras de sucesso no mundo eleitoral podem estar mudando. Será que os deputados do PSL conseguirão obter sucesso pelo seu trabalho ao longo de 2019? O estilo de campanha permanente que eles fazem nas mídias sociais também servirá para obter sucesso na disputa por cargos do Executivo? Em suma: as eleições de 2018 foram uma exceção ou representam um ponto de virada nas regras das campanhas eleitorais? A campanha de 2020 poderá nos dar algumas respostas a esse respeito.
Palavras-chave: Movimento Voto Consciente; Poder Legislativo; Poder Executivo; Eleições 2018; eleições 2020; PSL; PT; Bolsonaro.
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