Carolina de Paula
As eleições presidenciais no Brasil geralmente acontecem no mesmo ano da Copa do Mundo. Em 2022 não será diferente, mas a ordem dos eventos mudou: teremos primeiro a eleição, no mês de outubro, e só depois o mais esperado evento esportivo do mundo, em novembro. Nos últimos ciclos eleitorais, em que o desânimo com a política eleitoral e o universo dos políticos tornou-se crescente, era muito comum ouvirmos em pesquisas qualitativas a frase “ninguém quer saber de eleição, agora só dá Copa”. Desse modo, as campanhas eleitorais só esquentavam de verdade após o fim do evento esportivo, geralmente em meados de julho. Até o final do mês passado tudo indicava que a campanha chegaria mais cedo no dia a dia das conversas dos cidadãos. Um indicador disso é a cobertura da imprensa sobre o pleito que já estava relativamente aquecida no que tange as movimentações de candidatos e partidos. Porém, a invasão da Rússia à Kiev no dia 24 de fevereiro deslocou, por razões óbvias, o foco da mídia para a cobertura da guerra na Ucrânia.
Ainda não sabemos qual será a duração da guerra e como a imprensa irá conciliar a cobertura dos eventos na Europa e a corrida eleitoral. O que sabemos é que os impactos nas campanhas já começaram. E não me refiro apenas ao criminoso episódio dos áudios vazados – que deveriam ser motivo suficiente para cassar o deputado estadual – do agora ex-candidato ao governo do Estado de São Paulo, Arthur do Val (sem partido).
Além dos potenciais impactos econômicos da guerra no Brasil – derivados de uma provável alta da inflação, aumento do valor dos combustíveis e da dificuldade para a importação de fertilizantes – a guerra força o posicionamento dos candidatos frente ao tema. As pesquisas de opinião revelam que o eleitor brasileiro médio acompanha muito pouco a chamada “política internacional”, contudo, indiretamente em anos eleitorais, a postura dos candidatos sobre a pauta é avaliada para consolidar o perfil, ou ausência, de “liderança”. De modo particular, o eleitor estará atento a postura dos mandatários. Assim, o presidente Jair Bolsonaro (PL) encontra-se em uma situação bastante delicada já que optou por uma postura de difícil entendimento para o eleitor, posição que ele mesmo definiu de “solidariedade à Rússia”. Ainda mais complicado será conseguir explicar tal abordagem para o seu eleitorado mais fiel, tradicionalmente crítico ao verniz socialista do “país vermelho”.
Créditos da imagem: EFE/Joedson Alves
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