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Notícias de uma “guerra particular”

Humberto Dantas



O pior perdedor é aquele que reclama de tudo, menos de si quando colhe uma derrota. E Jair já começou a atacar a urna eletrônica mais uma vez. Paciência.



O entusiasmo de Bolsonaro nas eleições de 2020 é semelhante à motivação de um nórdico ao receber o prêmio de uma loteria. Suas aparições foram apagadas, mas não é possível dizer que na reta final não pensou em seu prestígio para angariar votos para o filho Carlos, vereador no Rio de Janeiro desde a adolescência, utilizando a estrutura do Palácio do Planalto. Obviamente a justiça tratará de atenuar e relativizar o uso da máquina em benefício de campanha. Paciência. Se Dilma pôde usar até helicóptero da FAB em 2014, o que é uma live? Não é mesmo?



Pois bem, é sobre a história da violência no Rio de Janeiro que trata o documentário “Notícias de uma Guerra Particular” de 1999. Ali as forças policiais, o tráfico e os moradores das comunidades são relatados de formas distintas. E uma guerra particular, que certamente passa por trechos daquele filme, parecia travada no Rio de Janeiro ao longo da apuração de ontem. Carlos Bolsonaro seria facilmente reeleito, é óbvio. Mas talvez dialogando com o trauma trazido (ou imposto) pelo pai, quando aos 17 anos enfrentou a mãe nas urnas para lhe tirar da Câmara, a trouxe pro partido e talvez sonhava em dar mandato novo para quem já havia estado nas fileiras do parlamento carioca. Não deu certo. Rogeria Bolsonaro teve dois mil votos. E Carlos? O filho foi muito bem, e cravou redondos 71 mil votos. Bem?



Em 2016 um o filho 002 do presidente, sem qualquer estrutura federal lhe servindo, teve quase 107 mil votos. Foi o candidato mais votado da cidade pelo PSC. O resultado de ontem representa encolhimento de quase 30 pontos percentuais. A diferença poderia ter ido para a mãe. Não foi. Em segundo lugar naquele ano apareceria Tarcísio Motta do PSOL com pouco mais de 90 mil votos. E onde está Motta esse ano? Em primeiro com 86 mil votos, ou seja: pouco menos de 5% pior que em 2016. Quem assiste aos espetáculos circenses da Câmara do Rio de Janeiro, sobretudo protagonizados por Carlos, sabe que duas das funções principais do vereador são: pedir licença não remunerada para desaparecer do parlamento sem abrir brecha para seus suplentes, ignorando o desejo de seu eleitorado, e provocar seus colegas do PSOL com perguntas absolutamente ridículas ao estilo: “fulano cheira? Beltrano queima?” É essa a parcela de responsabilidade do vereador que não preside nada, não aprova nada, não legisla nada. Apenas representa gente que obviamente tem todo o direito de pensar e agir como ele, o reelegendo. De estranhos demônios o inferno anda cheio.



Nessa guerra particular o sinal amarelo deve ter acendido na casa dos Bolsonaro. A família não manda, tampouco reina absoluta no Rio de Janeiro. Tem representatividade? Claro que sim, e isso merece o respeito do universo democrático. Mas não basta ser Bolsonaro para se fazer o que quer que seja na cidade.

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