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O PSL no divã: a jornada de autodescoberta da política

Graziella Guiotti


O equilíbrio de poderes e o papel dos partidos não têm a mesma dinâmica nas arenas federal, estadual e municipal. Na verdade, sabemos muito pouco sobre o tema fora da esfera federal. Certo é que a cada dois anos ocorre um realinhamento partidário em função das eleições e da configuração de forças nos estados e municípios, especialmente os grandes e médios. Isso porque a atuação política e partidária abarca elementos ideológicos e estratégicos. Já diria Weber que o político é aquele que sabe equilibrar a ética da convicção e da responsabilidade.


Em outras palavras, a localização no espectro político ideológico dos partidos se faz na prática política. Claro que existe uma definição a priori, mas a própria definição de esquerda e direita da prática política é fundamentalmente diversa em diferentes contextos e está o tempo todo em mutação. O PSL nasceu com um discurso que aglutinou quatro “direitas” num momento eleitoral do qual se pode dizer excepcional.


A pauta anticorrupção (os “lavajatistas”) foi assumida pelo clã Bolsonaro e coroada com o apoio do ex-juiz e atual Ministro Sérgio Moro, que insiste na pauta da técnica em oposição à política no combate à corrupção. Já não são novidades os estranhamentos entre Bolsonaro e Moro, que esperava um maior empenho do Presidente em apoiar sua agenda no Congresso. Bolsonaro se escusou de construir coalizão e Moro não tem habilidade política para construir em conjunto. No Congresso, o Podemos já busca herdar a pauta e conta com a segunda maior bancada no Senado.


Bolsonaro se colocou como o candidato da direita econômica neoliberal, em especial na pessoa do Ministro Paulo Guedes. Contrariando sua atuação parlamentar desenvolvimentista, prometeu medidas privatizadoras e reformas que reduzissem a burocracia, ainda que implicassem a diminuição de benefícios sociais. Na promessa de novos empregos, propôs algo como dar os anéis para manter os dedos. A base do partido na Câmara não tem toda a coesão que se esperava no tema, como ficou claro no processo de votação da previdência.


Ao contar com o apoio de boa parte dos líderes neopentencostais e abraçar pautas socialmente conservadoras, o PSL de Bolsonaro apostou no extremismo como estratégia para alcançar o segundo turno e confrontar o fragilizado e perdido PT. A pauta continua, no entanto, atravessando transversalmente o espectro partidário e seguindo forte pela atuação das frentes e bancadas. A despeito de alguns partidos contarem com mais parlamentares, os membros da bancada evangélica se espalham pelas agremiações.


A pauta da segurança pública também foi habilmente assumida pelo PSL que apoiou a candidatura de Wilson Witzel e lá construiu governo lado a lado com o PSC de Witzel. A declarada aspiração política do governador do Rio gerou estranhamento com o partido do Presidente, que retirou seu apoio do governo. Flávio Bolsonaro, presidente estadual do PSL, disse que não obrigaria os membros do partido a se retirarem do governo. Ora, o que é apoio ao governo senão compor o governo e apoiar no Legislativo?


O PSL prova do próprio veneno que impôs como Executivo federal no Legislativo estadual. Assume no Rio o mesmo discurso que o Novo assumiu na esfera federal: se temos filiados como Ministros, estão lá como indivíduos, não como membros do partido. Ocorre que nas eleições os diretórios partidários oferecem estrutura e articulação para campanhas mais eficientes. Do ponto de vista do eleitorado, partidos com ideologias claras são melhores para eleitores que querem escolher o conjunto de valores que quer verem ver representados politicamente. Convicção e responsabilidade, à lá Weber.


Que pautas vão sobrar para o jovem PSL depois de 2020? A consolidação ideológica do partido que já nasceu grande vai ser resultado da prática política: eleitoral, no Congresso e nos estados.


Palavras-chave: Movimento Voto Consciente; Poder Legislativo; Poder Executivo; PSL; Bolsonaro; Witzel; Partidos Políticos; Sérgio Moro; Congresso Nacional; Senado.


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