*Cláudio André de Souza
A vitalidade de qualquer partido depende das condições dadas para um apoio político e eleitoral permanente na sociedade. Pensem comigo: e se eu dissesse a vocês que em um país democrático longínquo há um certo partido político que tem chegado em primeiro ou segundo lugares em todas as últimas eleições presidenciais realizadas nas últimas quatro décadas? Goste-se ou não deste partido, diagnosticaríamos que se trata de uma organização vitoriosa e com grande força no eleitorado, certo?
É exatamente o que tem sido o Partido dos Trabalhadores (PT) na política brasileira. Em razão do autoritarismo social e político no país, o nascimento de um novo partido de massas com inclinação democrática se deu tardiamente em 1980, incorporando atores da sociedade civil como sindicalistas, militantes de grupos de esquerda e líderes de movimentos populares urbanos e membros das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), longe de ser uma mera máquina partidária elitista para a disputa sucessiva de eleições em prol da conquista de mandatos.
Se o partido nasceu com este intuito, podemos também considerar que aos poucos os petistas foram construindo estratégias eleitorais que o levaram a sair da “retórica oposicionista”, em especial, quando passou a alcançar vitórias eleitorais cumulativas até a eleição presidencial de 2002. A metamorfose seguinte se deu diante do desafio de ser um partido governista, cuja proximidade do poder tornou-se um ponto de mutação no âmbito programático e pragmáticos das alianças necessárias para a governabilidade.
Se este processo é vivido comumente por todos os partidos que alcançam o poder nacional, o PT foi do céu ao inferno na última década na qual viu a direita ocupar intensamente as ruas, usando exatamente o mesmo repertório de ação por muito tempo protagonizado pelos partidos de esquerda; viveu para ver um impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o partido envolvidos em escândalos de corrupção de grande magnitude; a ascensão de um antipetismo plebiscitário e a prisão do seu maior líder político, o presidente Lula (PT), inviabilizando a sua candidatura nas eleições de 2018. Por tabela, a eleição de Bolsonaro representou a ascensão de extrema direita, mas com apelo popular, algo que produziu nas últimas eleições a maior polarização da política brasileira entre o bolsonarismo e o lulismo.
Sem dúvidas, o PT exerce uma centralidade no sistema partidário brasileiro. Apesar da profunda crise política vivida entre 2013 e 2018, que levou à perda consecutiva de mandatos e votos (o PT diminuiu quase três vezes a quantidade de votos a prefeito entre 2008 e 2020), a vitória de Lula põe o partido novamente sob a pressão e o pragmatismo que é liderar um governo nacional, no qual as condições políticas formadas pela coalizão não necessariamente coincidem com a ideologia do partido e dos movimentos sociais que apoiam o seu governo.
Vale ressaltar, que a resiliência do PT aponta exatamente a força da representação política do partido no eleitorado brasileiro. Como podemos observar no gráfico abaixo, na série histórica 2006-2022, a votação do PT para os legislativos mantém-se estável tanto na eleição para deputado estadual quanto para deputado federal. Nas eleições de 2022, o partido obteve 10,68% e 10,94% de votos, respectivamente, uma votação superior quando comparada com a eleição de 2018.
Analisando a política municipal (gráfico abaixo) no que se refere à votação do partido para os cargos de prefeito e vereador percebe-se que houve uma redução drástica na votação do partido para a disputa municipal majoritária, dando sinais de que o partido enfrenta dificuldades na renovação de quadros com condições de disputar o comando da maioria das cidades do país. Para se ter uma ideia, em 2012, os petistas obtiveram 16,73% de votos para prefeito, diminuindo para 6,61% em 2016 e ficando em 6,82% em 2020. Com o retorno de Lula ao Planalto para um terceiro mandato, o que devemos esperar para 2024?
O partido também tem perdido espaço na eleição para os legislativos municipais, mas a votação para vereador manteve-se estável nas últimas eleições, mas dentro de um cenário de queda quando comparamos às eleições de 2008 (8,25%) e 2012 (8,96%) com as eleições de 2016 (4,82%) e 2020 (5,02%).
Na seara programática, a vida do partido não será fácil, pois, para além da organização política no interior das instituições políticas, de que forma o partido pretende tratar internamente da agenda anticorrupção?
Além disso, os petistas necessitarão reavaliar o debate das estratégias de enfrentamento ao capitalismo global contemporâneo e como dominarão as novas morfologias de organização dos trabalhadores frente a um aumento da informalidade, do empreendedorismo das classes médias urbanas e da precarização, ou seja, aspectos que afeta a organização política de um grande contingente da sociedade brasileira. Como se tornará, inclusive um partido de novos trabalhadores é um dos maiores desafios rumo ao cinquentenário em 2030.
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