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O que vem pela frente na Colômbia? Uma reflexão sobre o segundo turno das eleições presidenciais

Michelle Fernandez e Nádia Perez



No próximo domingo, 19 de junho, a Colômbia volta às urnas para o segundo turno da eleição presidencial. Depois de quase um século de predominância dos partidos Liberal e Conservador e do Uribismo no poder, em 29 de maio de 2022, os colombianos votaram em duas opções que apostam, desde diferentes perspectivas, em um discurso de mudança para o país. Por um lado, Rodolfo Hernández, que foi a grande surpresa, traz um discurso demagógico de combate à corrupção. Por outro lado, Gustavo Petro, com discurso e ação cada vez mais pragmáticos, traz um projeto de centro-esquerda em prol da junção de diferentes setores políticos do país. Portanto, na corrida eleitoral colombiana, destaca-se a dificuldade ou fragilidade dos partidos políticos tradicionais em formar e apresentar lideranças com projeção nacional que sejam capazes de assumir uma candidatura forte à presidência.



Rodolfo Hérnandez ou Gustavo Petro será o próximo presidente colombiano. Hernández pode ser classificado como um outsider, antipolítica e antipartido. Ele é engenheiro e empresário na região de Santander, no centro da Colômbia. Nos últimos anos, Rodolfo Hérnandez transformou o jogo político de sua cidade, Bucaramanga, e de sua região, influenciando no cenário político local. No entanto, sabe-se pouco sobre as características de um governo liderado por Hernández.



O discurso anticorrupção ajudou Hernández a dar o salto da política local para a nacional. Além disso, com esse mesmo discurso conseguiu reunir o descontentamento de vários setores do país por meio de ataques à classe política e aos partidos políticos. Rodolfo Hernández chama a classe política de “criminosos” e afirma que, se eleito, governará sem realizar "qualquer pacto" com outros políticos. A isso se soma sua estratégia de campanha e a forma de fazer política. Hernández não participa de debates, faz aparições via zoom e sua campanha se concentrou na divulgação de suas propostas através das redes sociais, especialmente por WhatsApp e TikTok. Claramente temos um candidato que segue estratégias já utilizadas por Trump e por Bolsonaro.



Por outro lado, temos Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá, capital colombiana. Além de experiência política consolidada, adquirida na gestão de uma metrópole como Bogotá, Petro já concorreu às eleições presidenciais anteriormente. Ao longo dessa caminhada, Gustavo Petro passou de ser o “bicho-papão” da esquerda a ser considerado um político pragmático com moderação programática.



Petro tem na sua base de apoio setores sociais importantes. Além de uma base social consolidada, Petro também conta com o apoio de alguns setores políticos. No entanto, na Colômbia, há um forte sentimento anti-esquerda e anti-Petro que vai repercutir na disputa eleitoral e dificultaria um governo de esquerda , caso eleito. Esse sentimento está consolidado entre os empresários do país. Construiu-se um ambiente de medo focado na possibilidade de transformação da Colômbia em uma nova Venezuela.



Na mesma eleição que definiu os candidatos que iriam ao segundo turno para presidente, tivemos a escolha do Legislativo Nacional. Partidos tradicionais, como o Liberal e o Conservador, obtiveram um número significativo de cadeiras nessas eleições. Isso permitirá que esses partidos tenham a capacidade de negociar ou barganhar com o presidente e sua possível coalizão de governo.



A Colômbia está enfrentando um contexto sem precedentes. Pela primeira vez dois candidatos que não são originários da classe política tradicional podem ocupar a presidência, rompendo com duas décadas de dominação dos partidos políticos tradicionais no debate político nacional. Esse novo contexto que se apresenta traz consigo maior incerteza sobre como serão as relações entre o presidente e o Legislativo recém-eleito.



O sistema político colombiano caracteriza-se por ter historicamente legislaturas nacionais atuando em função das decisões tomadas pelo executivo. No entanto, diante das mudanças de rumo político apresentadas pela configuração do segundo turno presidencial, questões sobre a capacidade de governar do presidente eleito têm sido levantadas. Levando em consideração a divergência entre as forças políticas tradicionais que vão compor majoritariamente o Legislativo Nacional e o próximo presidente eleito, seja Hernández ou Petro, parece que vamos presenciar uma nova dinâmica de interação entre executivo e legislativo na política colombiana.

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