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Quem procura, acha!

Bruno Silva


Você já deve ter ouvido o ditado popular: “quem procura, acha!”. A frase comumente é enunciada por pais e responsáveis em relação aos seus filhos, principalmente quando estes tentam encontrar algo que tanto desejam ou necessitam achar em dado momento e não conseguem. Quem nunca passou por uma situação dessas, na qual o objeto estava ali na sua frente e você não o identificava de maneira alguma? Haja paciência nesse momento! Mas será que este ditado popular pode ser estendido à política brasileira, sobretudo considerando que estamos em um ano eleitoral e, em tese, o interesse pelo tema desperte nos cidadãos?



Já é mais novidade para nós as possibilidades de buscas de informações proporcionadas pela internet. Vivemos em uma sociedade na qual as redes sociais adquiriram importância central e os mecanismos de buscas na web permitem a qualquer pessoa com acesso à conexão obter, da tela do seu smartphone, informações sobre algo que deseja entender ou descobrir. Com a política não é diferente. Por sinal, vale lembrar que o acesso à informação é uma condição essencial para a democracia em si, imprescindível na construção de percepções e juízos sobre o processo político. O problema é o fato de sermos seletivos em um contexto eleitoral que demanda a nossa máxima atenção quanto ao ocorrido em todos os Poderes e cargos em disputa, o que nunca ocorre em função do forte traço presidencialista do nosso sistema político. Em outros termos, todos ficam de olho na disputa presidencial, enquanto o Legislativo fica em segundo plano.



Em rápida pesquisa na ferramenta Google Trends, a qual mostra os picos de buscas de termos específicos em um passado recente, acaba sendo notória tal seletividade. Ao se comparar nos últimos noventa dias termos como “presidente da república”, “governadores”, “senadores”, “deputados federais” e “deputados estaduais”, todos cargos eletivos em disputa neste ano, as diferenças são expressivas. Na lanterna dentre tais termos buscados seguem os deputados estaduais e os federais, cargos do Poder Legislativo. Na liderança, com cerca de três vezes mais interesse nas buscas quando comparado aos deputados estaduais, segue informações sobre o cargo de presidente da república. Claro que esta ferramenta de busca não define o interesse geral pelo assunto. No entanto, trata-se de um mecanismo importante para ilustrar algo que está na percepção popular e, consequentemente, na pouca atenção dada pelos cidadãos: o Legislativo continua longe demais dos cidadãos, a despeito dos parlamentares estarem mais próximos de nós por circularem mais pelos nossos municípios do que o presidente e governadores.



É curioso pensar sobre essa ótica, mas é o que a realidade apresenta. Se considerarmos as últimas duas décadas de eleições nacionais para o Congresso, a quantidade de votos brancos/nulos somadas às abstenções eleitorais (não comparecimento às urnas) aumentou significativamente. Para se ter ideia, em 2002 esse percentual foi de 24%, ou seja, cerca de um quarto do eleitorado nacional escolheu não escolher nenhum representante para o Legislativo, seja por incapacidade de participar no pleito ou por livre opção de não escolher ninguém. Já em 2014 esse percentual saltou para 32%, o que representa quase um terço do eleitorado. Em uma das últimas pesquisas do DataFolha sobre avaliação do Congresso Nacional, divulgada em dezembro do ano passado, apenas 10% dos eleitores avaliavam o trabalho do Legislativo Nacional como ótimo/bom.



Tais dados apontam para a descrença dos trabalhos no Congresso associada ao diminuto interesse em relação ao que fazem os deputados no dia a dia da legislatura. A preocupação reside na constatação de que um presidente ou governador qualquer só leva adiante a sua agenda em negociação com o Legislativo. Logo, se prestamos muita atenção e nos dedicamos somente a obter informação sobre candidatos a presidente e governadores, deixando em segundo plano os parlamentares, como fazer para melhorar a qualidade da atividade política no coração do processo democrático, o Legislativo?



Informações sobre os trabalhos parlamentares são abundantes nos sites das Assembleias Legislativas Estaduais, Câmara dos Deputados e Senado. É possível identificar os parlamentares, seus partidos, principais projetos apresentados, solicitações feitas ao Executivo, requerimentos com finalidades fiscalizatórias, resultados das participações em Comissões, dados de votação em plenário etc. Se cada um, de fato, adotar o representante que escolheu nas eleições para acompanhá-lo ao longo do seu mandato já ativará a sua cidadania política para além do voto.



Ademais, avaliar o trabalho de quem já é um deputado ou senador é fundamental para orientar a escolha por alguém que já é um representante ou decidir por uma figura que deseja alcançar tal representação. Sem critérios, qualquer referência acaba servindo, até o santinho perdido na calçada a caminho da sessão de votação. Por isso que a postura de acompanhamento parlamentar é urgente se o objetivo é aproximar tais representantes da sociedade e pressioná-los para a realização de um trabalho satisfatório. Novamente, o ditado popular faz todo sentido: “quem procura, acha!”. Mas é preciso acrescentar uma informação a ele: é preciso querer encontrar. Se não agora, em pleno ano eleitoral, quando?

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