Araré Carvalho
O impacto das redes sociais nas campanhas eleitorais foi sobejamente tratado por vários especialistas. Mais que medir os impactos das redes sociais durante as campanhas, podemos falar do impacto delas na própria vida política do país. Elas são o campo de batalha dos candidatos, dos políticos com mandato e também da base de apoiadores/seguidores de candidatos e/ou partidos.
Um fenômeno que não é novo é o uso do YouTube, focado em gerar maior engajamento por candidatos e/ou políticos com mandatos. Neste sentido, o YouTube pode servir como ferramenta para aqueles que desejam se eleger para um cargo público, pois dá visibilidade às ações desenvolvidas pelo pretendente. Nas eleições de 2018, foi notório o aumento de criadores de conteúdos que se elegeram (muitos partidos procuram por candidatos com este perfil). É claro que não se elegeram pelo fato de estarem no YouTube; mas a plataforma deu visibilidade para suas causas e ações. Podemos citar aqui candidatos, à época, que defendiam, por exemplo, a causa animal, e que abasteciam o canal no YouTube com vídeos de resgate de animais que sofriam maus tratos. A divulgação das suas atividades, via vídeos, ajudou na criação de uma base de seguidores, com potencial de se converterem em eleitores. Nestes casos, a importância do Youtube é central, pois é a partir dos vídeos “upados” na plataforma que os candidatos e/ou políticos com cargos, poderão disseminar seus conteúdos por outras redes sociais, como Facebook, TikTok e/ou Instagram, uma vez que os vídeos postados no Youtube são facilmente compartilhados em outras ferramentas digitais.
Além de ajudar na pretensão de futuros candidatos, o YouTube tem servido como plataforma para que vereadores e deputados exponham sua “atuação parlamentar”, quer seja no dia a dia das câmaras e assembleias legislativas, quer seja desempenhando a “fiscalização” dos serviços públicos. Esta última modalidade, a de fiscalizar, (que é, diga-se de passagem, uma atribuição dos vereadores e deputados) tem ganhado mais adeptos, e gerado mais engajamento. Os vídeos das fiscalizações são gravados por equipes, aparentemente profissionais, e mostram a chegada do vereador ou deputado em instituições públicas, e submetendo essas a uma fiscalização. O alvo favorito, é claro, são hospitais e Unidades Básicas de Saúde, evidentemente pelo apelo que o tema tem junto a população em geral. Outro fator colaborativo para a produção de vídeos/fiscalização nestes espaços é que lá, além dos servidores públicos, o político pode interagir diretamente com a população.
A indignação com a falta de médicos, ou com médicos que assinam o ponto e vão embora, ou ainda com servidores que estão dormindo quando deveriam estar atendendo é legítimo. Mas, aqui, atendem muito mais a função do espetáculo do que da fiscalização. Aqui, o que interessa é o espetáculo, alimentada pelos depoimentos indignados, e justos, da população que sofre pelo atendimento insatisfatório. A modalidade de parlamentar youtuber fiscalizador aumentou muito da última eleição para essa que se aproxima. Uma pesquisa rápida no YouTube te dará a dimensão deste fenômeno. Além de se manterem na berlinda, os canais são monetizados e geram renda para o parlamentar.
O YouTube divulgou recentemente novas políticas para as eleições 2022. Entre elas está o refinamento na busca por conteúdos que divulguem informações falsas ou que usem de edição para enganar a audiência. No entanto, algumas coisas ainda continuam sombrias sobre a regulamentação da publicação e vídeos no YouTube. Por exemplo: Quando um candidato é um sujeito que possui ou participa frequentemente de um programa de rádio ou TV, ele tem que se desligar das suas atividades com um certo tempo antes das eleições para que este não possa usar a mídia para favorecer sua candidatura. E no YouTube? Os criadores de conteúdo/candidatos devem seguir essa premissa?
Não estou falando de impulsionamento e exposição da candidatura na internet, fato bem regulado pela legislação, que possibilita até arrecadação de doações por meio de plataformas digitais. Mas sim da manutenção da publicação de vídeos com as ações desenvolvidas pelos parlamentares e/ou candidatos. A disputa eleitoral, cada vez mais acirrada, pode levar à produção de vídeos que exponham situações que busquem mais o espetáculo e as visualizações derivados dele, do que a fiscalização e o trabalho em si. Podendo acarretar, cada vez mais, em cenas vergonhosas como aquelas vistas nos últimos meses: montagem de situações, mentiras e simulações. Para além de controlar a divulgação de fake news, o YouTube deve se preocupar com a produção de vídeos por parceiros com interesses eleitoreiros, sob pena de criarmos cada vez mais shows de horrores com a desculpa de estar se fazendo política.
Créditos da imagem: PSD
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