Graziella Testa
Dória e Leite chegaram, por fim, ao ponto de estarem dispostos a renunciar à própria candidatura desde que o outro não seja o escolhido. A maior vencedora dessa batalha é Simone Tebet, que tem chances de ser a candidata apoiada pela federação PSDB/Cidadania. Tebet sabe que, ainda que encontre espaço para sua candidatura no MDB, unidade e disciplina nunca foram os pontos fortes do partido e ela precisará buscar apoio fora da própria legenda.
O maior trunfo de Bolsonaro para dificultar a candidatura de Tebet é o governo do DF. O governador do DF, Ibaneis Rocha, se elegeu na onda da nova política de 2018. Advogado, não tem grandes raízes partidárias e teve um relacionamento dúbio com o presidente durante a pandemia. O atual governador, no entanto, conta com o importante apoio do presidente para buscar a reeleição. Além de enfrentar a forte, porém desanimada candidatura do Senador José Antônio Reguffe, Ibaneis ainda pode ter que lidar com a ameaça de Bolsonaro de apoiar uma candidatura de Damares ao Senado pelo DF. Ocorre que 2022 é ano de uma única vaga para o Senado e, com o saída de Reguffe para concorrer ao governo, o lugar vale ouro.
Damares é uma peça fundamental no tabuleiro de Bolsonaro. A ex-ministra deixou o cargo para concorrer nas próximas eleições mas ainda não disse qual seria o cargo ou o estado. Se decidir sair pelo DF e com o apoio de Bolsonaro, isso pode forçar a deputada Flávia Arruda a concorrer ao governo e disputar o apoio de Bolsonaro no palanque com Ibaneis. A deputada e ex-ministra Flávia Arruda contava com o apoio presidencial para a vaga do senado. Bolsonaro, no entanto, tem ensaiado apoiar a candidatura de Damares Alves.
A despeito das condenações por corrupção do marido, o sobrenome de Flávia é velho conhecido no DF e as primeiras pesquisas apontaram potencial na candidatura. Some-se a isso o ato falho do marido que a chamou de governadora num evento e gerou desconforto com Ibaneis Rocha, que planejava apoiá-la para o Senado. Bolsonaro tenta, então, leiloar seu apoio e forçar Ibaneis a barrar a candidatura de Tebet no MDB.
As melhores chances de Tebet estão no apoio do PSBD/Cidadania e no eleitorado de direita que não abraçou o bolsonarismo. O apoio à candidatura presidencial da senadora pelas presidências do PSDB, Cidadania e MDB, oficializada no última dia 18 de maio foi a gota d’água para a renúncia à candidatura de João Dória. A justificativa externa para o abandono da candidatura de Doria é a alta rejeição e o baixo potencial de crescimento do ex-governador se comparado à Senadora. Até o dia 15 de agosto, quando acaba o prazo para o registro das candidaturas, nenhuma decisão é definitiva mas, se for confirmado, o apoio a Tebet pelos três partidos será mais um resultado do ressentimento entre Dória e Leite.
Cada dia mais parecemos nos aproximar de uma campanha entre dois candidatos, com pouco espaço para crescimento de uma terceira candidatura. O apoio à Tebet pela federação do PSDB/Cidadania ainda enfrenta a resistência das viúvas de Eduardo Leite, mas o chute de meio de campo deve terminar em tiro de meta. A senadora exerceu um mandato consistente e manteve sua candidatura enquanto a maior parte dos pré-candidatos jogavam a toalha. Não se pode perder de vista, no entanto, o papel fundamental dos novos incentivos institucionais.
As eleições proporcionais de 2022 serão as primeiras eleições nacionais após o fim das coligações e a segunda etapa da cláusula de desempenho. A expectativa era a de que os partidos se unissem em federações para evitar a extinção. Em estados menores e mais dispersos, há inclusive o risco de todas as cadeiras serem ocupadas por um mesmo partido. Por fim, o cálculo dos recursos de fundo partidário e fundo eleitoral é feito a partir dos votos recebidos para a Câmara dos Deputados. O cálculo estratégico dos líderes partidários é o de, portanto, não investir em candidaturas para o Executivo que não tenham chances reais de sucesso porque esse mesmo recurso fará falta nas campanhas para a Câmara.
As eleições de 2022 são, como todas as outras foram, as primeiras sob esse novo conjunto de regra. Os incentivos institucionais estão postos mas seria impossível antecipar todas as estratégias possíveis dos atores. As candidaturas não proporcionais não parecem estar considerando as novas regras, mais preocupadas com os novos meios de comunicação. Simone Tebet percorre um caminho consistente mas parece estar mais distante da linha de chegada do que as eleições de outubro exigem.
Créditos da imagem: Poder 360
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